sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Justiça



Justiça

Por estes dias corre um julgamento em que uma viúva é acusada de ter morto o marido com a ajuda do amante. Os factos, vão ser analisados por 4 jurados tirados à sorte de entre vários Cidadãos, 4 efectivos e 4 suplentes.
Não são nem nunca foram juristas, a menos que a roleta cega tenha encolhido algum, não por o ser, mas por ser cidadão português, no gozo de todos os seus direitos.
Porque o sentimento e capacidade de análise não está nos livros nem entre os dogmas dos grandes jurisconsultos, mas sim no coração e na cabeça de cada cidadão, são estes homens e mulheres que vao julgar se a viúva e o seu amante são culpados ou não e em caso de condenação vão medir a respectiva pena.
Isto sempre foi assim desde os tempos imemoriais, em todas as civilizações na mais escondida tribo de África ou da Amazónia, no mais especializado tribunal das grandes Metrópoles.
Não se trata das ideias inatas que vêm connosco quando nascemos, como concluiria um neoplatónico.
Porque, tal como uma árvore não sai já composta da semente também nós não saímos da barriga da nossa mãe já preparados para distinguir o bem do mal.
É a nossa educação feita em casa e na escola, na oficina e na nossa comunidade que vão criando o nosso carácter, vão-nos tornando, mais ou menos sábios, vão-nos abrindo os olhos para a vida.
Esta justiça foi sempre objecto de largos estudos, exarados em profundos tratados.
Mas um s´princípio resultou sempre desses estudos; dar a cada um o que é seu.
Eneo Domitius Ulpianus, jurista romano dos séculos II e III dizia que a “Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuens”, isto é,  a vontade constante e perpetua de atribuir a cada um o que é seu.
Quando no século VI, Justiano resolve codificar o direito romano incluiu aquilo que Ulpiano no seguimento daquela noção de justiça considerava os grandes preceitos do direito: “Iuris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere”, isto é, viver honestamente, não prejudicar ninguém e atribuir a cada um o que é seu.
Estes preceitos informam ainda o direito da Europa Ocidental, já que os códigos modernos fundam-se nas codificações do século VI levadas a efeito pelo imperador do Oriente, Justiniano I
Atribui-se a Zoroastro, nascido no século VII antes de Cristo, a frase: “Sempre que te seja incerta determinada acção que te seja apresentada seja justa ou injusta, abstém-te”. Esse é um grande princípio da justiça, que está por detrás do princípio constitucional da presunção da inocência, que os latinos denominaram “in dubio pro reo”.
Aliás é em Zoroastro que se fundaram os princípios do justo do injusto. Os actos justos vêm dos homens de boa mente, de boas palavras e de boas acções. Os actos injustos são os dos homens de má mente, más palavras e más acções, por cujas consequências têm de pagar se atingiram negativamente a comunidade!


Disse Verdadeiro Conde

domingo, 12 de maio de 2019

PADRON



Na igreja de Padron, que é como quem diz pedron, onde se amarrou a barca que trazia cadáveres não se sabe quando, nem de quem, talvez de Prisciliano e dos dois bispos que ficaram sem cabeça em Teveris, no século IV, na margem do Rio Mosela, que desagua no rio Reno, o qual desagua no mar do Norte, de onde se navega bem até à ria de Arosa, para o qual dá o rio Ulla, que sobe a Galiza a partir de Iria Flávia, hoje uma humilde aldeia de Padrón!

quinta-feira, 18 de abril de 2019

O OURO DOS TEMPLÁRIOS


O OURO DOS TEMPLÁRIOS
Porque se completaram no mês passado 700 anos da fundação da Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, em Portugal, sucedeu à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, também por cá conhecidos como TREMPREIROS, achei oportuno reler, de Maurice Guinguand, o “OURO DOS TEMPLÁRIOS”.

É um estimulante percurso pelas lendas, mistérios, alguns factos e muitas suposições, que desde a fundação da Ordem dos Templários, em 1118, abundam pelas mentes ocidentais, e levam muitos curiosos de todo o mundo aos monumentos de Tomar ligados às “duas” Ordens à procura de sinais nas pedras, que lhe respondam às suas dúvidas.

domingo, 14 de abril de 2019

PRISCILIANO EM PONFERRADA


PRISCILIANO EM PONFERRADA

Depois de retemperar as forças com o típico botilho do Bierzo, regado com um Ribera Sacra branco, botámo-nos para o Castelo que os Templários, no seguimento dos de Cluny, plantaram em Ponferrada, onde o rio Boeza desagua no rio Sil. Na cabeça burilava-me a tese de que esta zona era terra de hereges, talvez o cordão umbilical que ligava Astorga do bispo priscilianista Dictinio a Ourense, do priscilianista bispo Sinfosio, através das margens do Sil e seus afluentes, com ligação a Braga do bispo priscilianista Paterno, através Allariz, Celanova e Gerês. Os priscilianistas não foram os primeiros cátaros. Antes do concílio de Elvira já havia quem achasse que os homens santos do cristianismo se haviam de manter puros, não tocando em mulher, como aliás S. Paulo pregava, dizendo que - sabe-se lá porquê-, nunca conhecera mulher! Os de Elvira perdoaram a heresia e tiveram-na para si, impondo a castidade aos homens da igreja, que de mulheres da igreja nem falar. Daí o meu cismar pelos caminhos de Ponferrada, reflectindo que, pelo menos o meu Amigo José Manuel Anes, escreveu num dos seus livros, que é possível que o priscilianismo, que se espalhou também pela Aquitânia, tenha influenciado o catarismo medieval. À saída do castelo vi um homem de olhar triste e de alma morta a espalhar meia dúzia de objectos velhos e uma dúzia de livros usados. "Dê o quiser", disse ele, a esperança a nascer por eu ter parado a olhar a tenda, que outra não era que o topo do muro que separa do fosso da fortaleza. Parecia esfomeado. “50 cêntimos?” perguntei a brincar, disfarçando o embaraço e o sentimento de culpa por causa do botillo. “Se puder dar um euro...” disse ele conformado com a desgraça. Dei-lhe uma nota e procurei alguma coisa que não me atravancasse mais o escritório, muito mais do que já está. Passei aos livros. Perfeitamente sintonizada com o meu cismar, aparece-me esta VIAGEM AO PAÍS DOS CÁTAROS, com imagens a cores, fotos dos lugares, templos, mapas dos itinerários, enfim, 200 páginas de leitura compulsiva. Obrigado, meu S. Prisciliano!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O PLANALTO DOS SONHOS

Castelo de Montalegre
O PLANALTO DOS SONHOS
Antes, Montalegre era as batatas de semente e a carne barrosã.
Depois veio o Padre Fontes, os congressos de medicina popular, a feira do fumeiro, a sexta-treze, e um sem número de iniciativas que chamam aos quatros cantos do Barroso as gentes da planície e do litoral.
Também se ouvia falar que era por estas bandas que pontificavam as últimas práticas do comunitarismo ancestral em que os povos se entre-ajudavam, dando a mão uns aos outros nos vários afazeres quotidianos: nas vezeiras do gado, nos fornos comunitários, nos moinhos, nas conduções de água, no contrabando e na passagem a salto para ir ganhar o pão para as minas do Bierzo ou para a construção em terras de França, ou simplesmente para a fuga à perseguição política ou à guerra colonial.
Hoje Montalegre é um fervilhar de actividade desde o renovar das tradições até às mais recentes aventuras radicais pelas encostas das suas penedias e pelos leitos, ora calmos, ora agrestes, dos seus rios.
O turismo floresce com casas renovadas, parques de campismo, sinalética apropriada e acessibilidades adequadas às dificuldades dos caminhos romanos ou ainda mais antigos.
Os da cidade, quando bate a saudade das alargadas vistas salpicadas de verde e bruma e dos sons de Deus pela voz dos pássaros e pelos que a brisa deixa nos ramos do arvoredo, sem esquecer os que escorrem pelas fragas por onde passam os rios e os ribeiros às vezes caudalosos, botam-se para as montanhas do Gerês e do Barroso a oxigenar o corpo e a alma, e é vê-los contentes como os cucos, a percorrer barrocas, saltar riachos, parar respeitosamente ao chilrear dos pássaros e a salivar à frente dos vários fumeiros que vão encontrando. Às vezes entram numa taverna e extasiam-se perante uma lasca de presunto, duas rodelas de salpicão, uma bucha de pão de mistura e um copo de tinto, excepção saudável à coca-cola e hambúrguer das cidades costeiras!
Por isso, Montalegre é hoje um destino incontornável para os que ainda sentem o sangue celta a correr-lhes nas veias, carecido das velhas emoções que a civilização ainda não conseguiu apagar. As montanhas enchem-se de gente de todas as idades a fazer os percursos dos monumentos romanos, os das sombras por baixo dos carvalhos onde os velhos druidas apaziguavam os deuses e os das velhas gentes quando, à cata do pão, não evitavam monte ou vale por mais inóspitos que fossem, com a foice na mão e no coração a prece ao deus Larouco que ali instanciava em granito insculpido para os lados da Rousia, ou ao Júpiter romano que o substituiu, e mais tarde a Nossa Senhora dos Galegos posta numa pequena capela, para os lados da serra de Leiranco.
Ecomuseu de Barroso
Hoje, o Barroso, já tem o Eco-museu a recolher as antigas tradições com os instrumentos das suas artes e ofícios.
Falta um museu de artes plásticas onde fiquem as emoções dos artistas que por cá passam.
Quando os edis do concelho tivessem um momento de sossego no seu imparável afã, que os tem atreitos aos permanentes projectos que levam o nome de Montalegre até às cidades do litoral e do sul desta terra, seria tempo de lançar mão de mais uma iniciativa que trouxesse anualmente os artistas plásticos a estas terras de Barroso e do Gerês, num evento que passaria pela atribuição de prémios de aquisição de obras, que, para já, poderiam ficar nos vários polos do Eco-Museu do Barroso, até se encontrar um espaço próprio para se instalar o Museu de Arte Contemporânea Barrosã.
Com partida e chegada a esse pólo aglutinador das artes plásticas, assinadas por autores daquém e dalém fronteira, sairia um itinerário de caminhadas ao longo do qual se instalariam esculturas de material imperecível, que transmitissem aos caminheiros as mensagens que os artistas tivessem deixado nas suas obras.
Original, esta iniciativa? Não. Um pouco por toda a parte, pela Europa em particular, vêm-se aldeias e vilas transformadas em museus a céu aberto.
Atelier em Barbizon
Em Barbizon, na esteira de Théodore Rousseau e de Jean-François Millet, desenvolveu-se uma escola de pintura que faz hoje das suas ruas galerias de arte abertas de manhã à noite, com ateliers instalados nas pequenas casas que bordejam os seus caminhos, casas essas cedidas por concurso público a artistas de todo o mundo, por maiores ou menores temporadas. E os turistas que vão de Paris visitar Fontainebleau, nunca deixam de parar nesta cidade-museu, que lhes fica a meio-caminho.
Valle de los Sueños, em Puebla de la Sierra
A Puebla de la Sierra chega-se partindo de Madrid pela A1, na direcção de Burgos, podendo-se fazer um desvio a partir da saída 57, para se ir à Serra de Valdemanco, dar uma olhada à Fundação Berruti, que ocupa o coruto do monte onde Luis Berruti tem instalado o seu atelier de escultura e pintura à volta do qual se espalha um museu ao ar livre com as suas obras.
Fundação Berruti na Serra de Valdemanco
Tornados à A1, sai-se logo à frente para Puebla de la Sierra, num percurso que não chega aos cem quilómetros desde Madrid, onde o artista plástico Federico Eguia – que empresta o valimento da sua arte a este evento Arte na Raia, nele expondo uma de suas obras – fundou, em finais dos anos noventa, um museu de escultura a céu aberto, semeando obras de arte ao redor da povoação, ao longo de caminhos que propiciam aos apreciadores umas caminhadas pela natureza e pela cultura numa amálgama perfeita de beleza e satisfação física e intelectual.
Fica a sugestão!
Apresentamos hoje 75 obras de 75 artistas plásticos oriundos deste e do outro lado da fronteira.
É a terceira vez que vimos a este planalto colaborar com o Eco-museu de Barroso e a Câmara Municipal de Montalegre para acrescentar à beleza desta terra, a beleza das artes plásticas.
Esperamos que a abertura às artes continue a merecer a atenção dos edis de Montalegre e a boa vontade das pessoas e das instituições que tornaram possível este evento.
Agostinho Costa