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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A QUADRATURA DO CÍRCULO

A “quadratura do círculo” é tema que tem atravessado os séculos desde os gregos, que propunham a construção de um quadrado com a mesma área de um dado círculo servindo-se somente de uma régua e um compasso. É tarefa difícil.
Mas a um verdadeiro Homem não pode meter medo a dificuldade. Bastar-lhe-á persistir na rectidão, em permanente demanda da “Pedra Filosofal”, e praticar a justiça, como remanesce dos velhos princípios de Ulpiano, na direcção do Éden perdido. Chegado lá, será outra vez Deus, de que foi desgarrado pelo apoucamento do divino que todo o homem traz em si.
O nosso corpo é uma realidade manifestada, por isso, um quadrado, como a sabedoria antiga o ensinou, mais do que os cálculos de Vitrúvio o demonstram, porque este referia-se tão-somente ao bocado de pó que somos, quando é certo que o homem é pó e centelha divina, como outros sábios explicaram.
Pois esta centelha divina desenvolve-se com a busca permanente da sabedoria que alargará, círculo a círculo, o espírito, e com ele a alma, até corpo e alma serem um só, mens sana in corpore sano, como pretendia Platão, dando-se assim a quadratura do círculo. Porque, como dizia o sábio grego: "A mim não me parece ser o corpo, por perfeito que seja, que torne a alma boa, mas, pelo contrário, a alma boa, pela sua excelência, permite ao corpo ser o melhor possível."
Praticando a rectidão e a justiça, estaremos a desenvolver essa centelha divina de que falava Salomão e, se lá chegarmos, seremos deuses. “Vós sois deuses”, diz o Salmo 82 do Livro. E, no Evangelho de João, o Mestre dos Mestres reitera a proclamação, que o outro Mestre, o de Tarso, haveria de corroborar na 1.ª carta aos Coríntios: “vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus”.
A alma humana é uma parte de Deus”, dizia, ainda, Prisciliano, que está sepultado na Catedral de Compostela, com toda a certeza, certeza igual à que os católicos invocam quando dizem que são os ossos de Santiago que lá estão.
Uns de uma maneira, outros de outra, todos procuramos seguir aquele percurso que anda nos subterrâneos dos saberes: "Visita Interiorem Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem". Porque é mergulhando no interior de nós próprios, praticando a rectidão, que descobriremos a pedra filosofal a qual nos restituirá a Deus, não como os mansos Adão e Eva, mas como seres já cientes do bem e do mal, como àqueles lhes fora anunciado na tentação de colherem da árvore do conhecimento.
Mas fazemo-lo em silêncio. Em silêncio se fazem as grandes jornadas. Não previam os pitagóricos 5 anos de silêncio a quem queria entrar nas suas Escolas? Não foi Jesus 40 dias para o deserto, onde os Essénios se tinham isolado há mais de 150 anos?
“Cale-se o tumulto da carne…”, dizia Agostinho de Hipona. Bruno de Colónia não abandonou as grandezas temporais para criar a Ordem da Cartuxa?
Conhece-te a ti mesmo”, lia-se por cima dos antigos templos do Saber e Sócrates repetia-o até à exaustão. E Monoimus, dizia, lá para as bandas de Nag Hammadi: “Abandona a procura de Deus por entre a criação e as outras coisas do mundo. Procura-o dentro de ti”.
Em silêncio que é o caminho da sabedoria.