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domingo, 12 de janeiro de 2014

V IMPÉRIO

Pintura de Carlos Dugos

António Gonçalves de Bandarra, nascido no ano de 1500, em Trancoso, onde era sapateiro, publicou algumas trovas a prometer futuros em que o Padre António Vieira descortinou o quinto império na célebre quadra do artesão de Trancoso:
Em vós que haveis de ser quinto
Depois de morto o segundo,
Minhas profecias fundo
C’o estas letras que aqui pinto.

À natureza profética de Bandarra, refere-se, Fernando Pessoa, na sua “Mensagem” dizendo:
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.

Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal.

Na verdade António Vieira, na sua obra “Império do Futuro”, pretende demonstrar que em Portugal ocorrerá o quinto império que profecias ancestrais anunciam e que depois dele nunca deixou de ser procurado.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

                                                                            diz Fernando Pessoa, ainda na sua “Mensagem”, anunciando, também ele, o quinto império Português, que outro não será do que o “Reino do Espírito Santo” pregado por Joaquin de Fiore e espalhado por Portugal inteiro pelos franciscanos, de cujo culto são reminiscências as festas do Espírito Santo, que alumiam os Açores no Verão e se veem em Tomar, disfarçadas de “Festas dos Tabuleiros”, onde se coroa imperador uma criança sem tempo para os vícios e defeitos que contaminam o carácter dos adultos e não os deixa entender-se num mundo de paz, liberdade, fraternidade e igualdade, realidades que hão-de compor o sanctus sanctorum do novo império.

«Restaurar a criança em nós, e em nós a coroarmos Imperador, eis aí o primeiro passo para a formação do império», diz Agostinho da Silva.

Este quinto império está anunciado nas escrituras e disso mesmo dá testemunho o sapateiro de Trancoso.
Protesta ele nas suas trovas:
Muitos podem responder,
E dizer:
Com que prova o sapateiro
Fazer isto verdadeiro,
Ou como isto pode ser?
Logo quero responder
Sem me deter.
Se lerdes as Profecias
De Daniel e Jeremias
Por Esdras o podeis ver.

Na verdade, este Esdras é quem, no Livro Sagrado, nos dá notícia do fim do degredo babilónico, pela mão de Ciro, o Grande, ao fim dos setenta anos anunciados pelo profeta Jeremias, descrevendo com minúcia o retorno de Israel e a reconstrução do Templo, com todo o circunstancialismo envolvente, nomeadamente a oposição dos samaritanos.
Ciro nada tinha que ver com o tirano Nabucodonosor, já que as suas crenças tinham em si a noção do bem e do mal que Zoroastro semeara pelo Oriente. A este, a doutrina não lhe fora revelada. Descobriu-a ele no livro da vida, examinando o meio que o rodeava, daí tirando os ensinamentos que o criador deixara assinalados nas coisas que criara. Descobertos tais ensinamentos, caberia ao homem descobrir o que era o bem e o que era o mal, porque o critério estava na sua própria mente. E a tarefa não é difícil porque o mundo foi criado bom, por um Deus bom.
Essa tarefa é quotidiana, sendo certo que o bem ou o mal que se pratica no dia-a-dia não é definitivo, já que se trata de um processo de aprendizagem contínuo que leva ao aperfeiçoamento geral, uma vez que quando uma pessoa progride, progride todo o mundo. Mas o aperfeiçoamento só será total, quando todos atingirem o mesmo nível de progresso.
Com Zoroastro acabara a religião com base no medo e no mistério. Ele descobriu a “religião da alegria” participativa, parceira de Deus no seu projecto criativo, utilizando as ferramentas da “Boa Mente”, das “Boas Palavras” e das “Boas Acções”. O resultado será a justiça, a rectidão, a fraternidade, a verdade, a bondade…
Dessa maneira as pessoas descobrem que fazem parte de um todo magnífico, em construção por eles e por Deus, bastando para isso conhecer a melhor maneira de encontrar o seu lugar no mundo, e agir de maneira a não desequilibrar o seu meio.
Esta religião reverencia a terra, a água, o ar e o fogo, bem como todos os seres vivos. Em Zoroastro não há diferenças de raças ou de género, o seu deus não é tribal, nem tem nenhum povo eleito. O homem e a mulher têm os mesmos direitos.
Zorobabel com a persuasão dos que se acham na razão, sem servilismos, nem cedências, convenceu o grande rei a deixar o seu povo regressar à Judeia, terra dos seus avós.
Ciro ficou na Pérsia a cumprir a profecia de Daniel. Com efeito, Nabucodonosor sonhara com uma grande estátua, na qual a cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés eram parte de ferro e parte de barro. Estando ele a admirar a estátua, uma grande pedra veio do alto e acertou nos pés da estátua que acabou sendo totalmente destruída. Depois disso a pedra cresceu até cobrir toda a face da terra.
O profeta Daniel, com a ajuda de Deus, explicou ao tirano que as várias partes da estátua eram diferentes impérios que se sucederiam no domínio do mundo, governando toda a terra o último. E se o de Nabucodonosor correspondia ao ouro, o da prata não poderia deixar de ser o de Ciro. Seguir-se-iam o de Alexandre Magno e o de Roma. O último está no verso 44º, onde Daniel profetiza: «No tempo desses reis, o Deus do céu fará aparecer um reino que nunca será destruído, nem será conquistado por outro reino. Pelo contrário, esse reino acabará com todos os outros e durará para sempre. É isso o que quer dizer a pedra que o rei viu soltar-se da montanha, sem que ninguém a tivesse empurrado, e que despedaçou a estátua feita de ferro, bronze, prata, barro e ouro. O Grande Deus está a revelar o que vai acontecer no futuro. Foi este o sonho e esta é a explicação certa».
Na Judeia, Zorobabel construiu o 2.º Templo, um terço maior que o de Salomão, com as alfaias numa mão e com a espada na outra, já que muitos eram os inimigos que queriam impedir aos judeus a reconstrução da sua casa de Deus!
Será que na Pérsia os seguidores de Zoroastro, sem alfaias nem espada, não tinham já dado início à construção do “Terceiro Templo” ou “Reino do Espírito Santo” ou “Quinto Império”?