domingo, 30 de outubro de 2011

O Segredo de José Rodrigues dos Santos

José González Collado, in: http://josegonzalescollado.blogspot.com/
Já andam por aí as costumeiras críticas aos livros de José Rodrigues dos Santos, agora a propósito d' "O Último Segredo". Que não sabe escrever, que se mete em assuntos que não domina, que é tendencioso... e por aí adiante.
Ora, ninguém vai a J. R. dos S. buscar a frase lapidar de Eça de Queiroz, nem a exegese da alma popular de Aquilino Ribeiro.
J. R. dos S. tem a sua matriz no jornalismo sério e aprofundado e aborda em alguns dos seus livros realidades quotidianas servidas por uma historieta policial que amarra o leitor à explanação dos assuntos.
Os temas que aborda e escalpeliza são assuntos actuais. Andam pelas publicações da especialidade e pelas poeiras das academias. No seu estilo ligeiro, JRS transporta-os para o universo da mera cultura geral. Foi assim com a questão de Cristóvão Colombo, português ao serviço de D. João II, ou não, no "Codex 632", com a perplexidade quanto ao que andamos aqui a fazer, atrás de Deus ou por causa dele, com deusinhos por toda a parte a manusear bombas atómicas de pataco com o Irão à frente, com "A Fórmula de Deus", com o que andamos a fazer à Terra, "Níños", efeitos estufa e quejandos, com "O Sétimo Selo", as "jihads islâmicas" com a "Fúria Divina" e agora as incongruências evangélicas com "O Último Segredo". E sempre o Prof. Noronha por perto, para que se não diga que não se trata de uma série policial, sem arremedos de teses académicas.
Ao contrário do muito que por aí a ortodoxia manda dizer, JRS não se mete nas teologias, remetendo-se à História desapaixonada, não tomando posições doutrinárias, nem opinando tendências.
É mais um bom livro de divulgação séria. Oxalá que os deuses continuem a dar ânimo ao autor para nos ofertar, no seu estilo simples, mais histórias da história, ou da ciência, ou mesmo da política para nossa recreação.
Terá ouvido José Rodrigues dos Santos falar daquele manuscrito que o Papa Dâmaso enviou a Martinho de Tours a solicitar a sua ajuda aos discipulos de Prisciliano no transporte dos restos mortais deste para Iria Flavia, onde repousam na catedral de Compostela sob o nome fictício de Santiago? Manuscrito esse encontrado em Amarante, na casa de Teixeira de Pascoais, por Agostinho da Silva, que o citou num estudo sobre Unamuno e a religião celta, que o filósofo deixou incompleto? Como magistralmente foi demonstrado pelo Prof. Noronha?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O DEVER

A história do dever é tão longa quanto a da humanidade.

Quando Deus criou Adão e Eva, logo lhes cominou o dever de não comerem o fruto proibido. Tantas árvores no Jardim Celeste e só aquela haveria de ter atrás de si a proibição.

Era um dever divino de que não se sabem os fundamentos, nem as finalidades como muitas outras coisas divinas.

Mas, para além desse dever, a vida no Paraíso decorria serena e farta, sem temores, sem angústias, sem qualquer tipo de necessidades, físicas ou psicológicas, porque Deus a tudo providenciava.

Se o barro que Deus utilizara na feitura do homem fosse de boa qualidade, Adão e Eva seriam de tal maneira perfeitos, que teriam a consciência de que deviam orientar o seu pensamento e a sua acção para o cumprimento do seu dever. Mas assim não aconteceu.

No dia em que infringiram tal dever, foram expulsos do Paraíso, votados ao desamparo, despidos de todas as certezas e seguranças, perante a incerteza do futuro.

Não admira, pois, que tivessem de se organizar, distribuindo entre si direitos e obrigações ditadas pela necessidade de sobrevivência, o que terá sido o cerne do direito das gentes.

Claro que nenhum deles ignorava que deveria comportar-se dentro dos seus direitos, com respeito pelos direitos do outro, sendo dever de cada um cumprir o que lhe era devido para garantir o respeito por tais direitos.

Porém, não foram precisas muitas mais páginas do livro da vida para que Caim matasse Abel por deformação de carácter.

Quantas tragédias, quantas injustiças, quantas iniquidades os homens não cometeram ao longo da sua alargada existência. Tantas, que o próprio Deus resolveu descer ao Sinai e entregar a Moisés as tábuas da Lei.

Amar a Deus sobre todas as coisas, foi o primeiro dos mandamentos. Porque neste amor de Deus está o apelo à perfeição do homem, já que tender para Deus é tender para lá da falibilidade dos homens, não devendo o homem invocar o Seu nome em vão e devendo festejá-lo condignamente.

“Honrarás pai e mãe”, assim se apelou no Sinai, para que se respeitasse uma ordem natural da tradição dos valores.

“Não matarás”, assim se garantindo o direito à vida.

“Guardarás castidade”, assim se apelando ao uso ordenado da sexualidade.

“Não roubarás” assim se garantindo a cada um o que é seu.

“Não levantarás falsos testemunhos” assim se firmando o direito à honra.

“Não desejarás a mulher dos outros” assim se impondo o respeito pela família.

“Não cobiçarás as coisas alheias”

Estes princípios tecidos em todos os Sinais de Oriente a Ocidente, do Norte ao Sul do planeta mais tarde ou mais cedo informaram todas as civilizações, como um ter-de-ser nascido das contingências da sobrevivência humana.

Claro que estes princípios por todos sabidos, intuídos e sentidos, não eram cumpridos por alguns, pelo que sempre se tornou necessário um chefe segregado pela comunidade, com a força necessária para fazer cumprir estas normas que a tradição se encarregava de fazer passar de geração em geração.

Houve-os com sabedoria bastante para conseguirem dirimir as questões que opunham interesses injustos aos justos interesses. Quem não se admira ainda hoje da competência de Salomão ao decidir dos conflitos de interesse nomeadamente quando, com muita sabedoria, decidiu entregar a criança à verdadeira mãe, na disputa entre a mulher justa e a mulher injusta?

Mas quantos chefes não erraram por incompetência, por soberba, por egoísmo, ou por qualquer outro interesse que nada tinha a ver com os interesses colectivos em nome de quem as normas se sedimentaram nos espíritos das gentes?

Porque no princípio o chefe era a lei, em vez de ser mero instrumento da sua aplicação.

Mas o espírito das gentes acabava por se rebelar contra o abuso.

E a torrente do direito natural, saído da natureza das coisas, vingou sempre ao longo dos séculos, como as águas de um grande rio, que ao longo do seu percurso pode encontrar obstáculos, mas nunca deixa de os vencer até alcançar o seu destino longínquo.

Quando Creonte proíbe a sepultura do irmão de Antígona, não invoca ela «aquelas leis não escritas, que não são de hoje, nem de ontem, mas que sempre existiram e existirão até à consumação dos séculos”?

Deve-se aos Romanos a criação do direito. Os princípios do Direito Romano ainda hoje informam os corpos jurídicos da maior parte dos países. Mas já no século terceiro Ulpiano proclamava que para lá da lei estão três princípios fundamentais: honeste vivere, alterum non laedere e suum cuique tribuere; viver honestamente, não prejudicar ninguém e atribuir a cada um o que é seu.

Ao longo da sua história, a humanidade dotou-se de um corpo de princípios absolutamente necessário à regulação das tensões sociais. Os romanos chamaram-lhe moral. Mas os gregos, mais atentos às coisas do espírito, iam mais longe e fixavam na Ética dois sentidos: o derivado de Êthos, que definia a acção humana nascida no interior do sujeito humano, que mais tarde Tomás de Aquino haveria de ressuscitar; já o sentido derivado do Éthos tinha a ver com o conjunto de usos e costumes assimilados pela sociedade e estavam por trás da assimilação social de valores.

É a este conjunto de valores que o Direito vai buscar as suas normas. Todavia tais normas não se esgotam na letra dos códigos. Estão sempre em diálogo com aquele corpo social de valores, estando a sua aplicação condicionada pela interpretação dos princípios fundamentais vigentes nas sociedades, que uns denominam “direito natural” e outros chamam “direito das gentes”.

Todavia, não é esse direito das gentes que há-de remir a humanidade. Como se ensinava na “Escola Moderna” do catalão Francisco Ferrer, como dizia António Sérgio, como outros afirmam todos os dias, torna-se necessário construir o homem novo, que semeie a justiça e o gérmen da harmonia universal para que algum dia todos possamos estar à altura de Sócrates, no testemunho de Platão. Na verdade, quando Criton quis subornar alguns guardas para tirar Sócrates da prisão, este recusando explicou «que se deve mais veneração, obediência e carinho a uma pátria agastada do que a um pai. Que o dever é ou dissuadi-la ou cumprir seus mandados, sofrer quietamente o que ela manda sofrer, sejam espancamentos, sejam grilhões, seja a convocação para ser ferido ou morto na guerra. Tudo isso deve ser feito e esse é o direito – não esquivar-se; não recuar; não desertar do posto; mas, quer na guerra, quer no tribunal, em toda a parte, em suma, o dever é cumprir ou executar as ordens da cidade e da pátria ou obter a sua revogação pelas vias criadas do direito. É impiedade usar de violência contra a mãe e o pai, mas ainda muito pior contra a pátria do que contra eles."

Este interiorizado respeito pela princípios fundamentais que informam a vontade colectiva, há-de um dia derrotar todos os egoísmos e se não gerar o 5.º império que António Vieira pregava, há-de gerar o “Império do Espírito Santo” anunciado por Joaquim de Fiore.

PAGANIZAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA

in:http://salaodaprimaverade2011.blogspot.com/
Bem pregava S. Agostinho, o de Hipona, quando dizia: "Não tratemos os santos como deuses, nós não desejamos imitar esses pagãos que adoram os mortos. Não construamos templos nem lhes ergamos altares; mas com as suas relíquias ergamos um altar ao Deuz único".
Mas o grande papa Gregório não ia por aí: "Onde ele tem por costume oferecer sacrifícios a ídolos diabólicos, permita-se-lhe que celebre, na mesma data, festividades cristãs sob outra forma. Por exemplo no dia da festa dos Santos Mártires, fazer construir pelos fiéis tendas de ramos de árvore e organizar ágapes. Permitindo-lhes alegrias exteriores, as alegrias interiores serão mais facilmente conseguidas. Não se pode de uma só vez eliminar tudo do passado desses corações ferozes. Não é aos saltos que se sobe uma montanha, mas a passos lentos".

UM APÓSTOLO MAIOR DO QUE OS OUTROS?


Natais, Santos Populares, cultos vários são exemplos de festas religiosas assimiladas pelo catolicismo para apagar cultos que lhe eram estranhos ou hostis.
Que culto popular pretenderiam, os de Roma, apagar na Galiza com a instituição, no século IX, do culto a Santiago?
Não sei dos valimentos especiais do apóstolo Tiago. E até entendo que a igreja Católica não cuidasse de festejar Judas Iscariotes, apesar de não se saber bem se era este o mais amado ou o mais odiado discípulo de Cristo. Mas os outros 10 apóstolos? Que eram eles menos que Tiago? Todavia a exuberância com que se festeja Tiago não se verifica nos festejos dos outros apóstolos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A QUADRATURA DO CÍRCULO

A “quadratura do círculo” é tema que tem atravessado os séculos desde os gregos, que propunham a construção de um quadrado com a mesma área de um dado círculo servindo-se somente de uma régua e um compasso. É tarefa difícil.
Mas a um verdadeiro Homem não pode meter medo a dificuldade. Bastar-lhe-á persistir na rectidão, em permanente demanda da “Pedra Filosofal”, e praticar a justiça, como remanesce dos velhos princípios de Ulpiano, na direcção do Éden perdido. Chegado lá, será outra vez Deus, de que foi desgarrado pelo apoucamento do divino que todo o homem traz em si.
O nosso corpo é uma realidade manifestada, por isso, um quadrado, como a sabedoria antiga o ensinou, mais do que os cálculos de Vitrúvio o demonstram, porque este referia-se tão-somente ao bocado de pó que somos, quando é certo que o homem é pó e centelha divina, como outros sábios explicaram.
Pois esta centelha divina desenvolve-se com a busca permanente da sabedoria que alargará, círculo a círculo, o espírito, e com ele a alma, até corpo e alma serem um só, mens sana in corpore sano, como pretendia Platão, dando-se assim a quadratura do círculo. Porque, como dizia o sábio grego: "A mim não me parece ser o corpo, por perfeito que seja, que torne a alma boa, mas, pelo contrário, a alma boa, pela sua excelência, permite ao corpo ser o melhor possível."
Praticando a rectidão e a justiça, estaremos a desenvolver essa centelha divina de que falava Salomão e, se lá chegarmos, seremos deuses. “Vós sois deuses”, diz o Salmo 82 do Livro. E, no Evangelho de João, o Mestre dos Mestres reitera a proclamação, que o outro Mestre, o de Tarso, haveria de corroborar na 1.ª carta aos Coríntios: “vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus”.
A alma humana é uma parte de Deus”, dizia, ainda, Prisciliano, que está sepultado na Catedral de Compostela, com toda a certeza, certeza igual à que os católicos invocam quando dizem que são os ossos de Santiago que lá estão.
Uns de uma maneira, outros de outra, todos procuramos seguir aquele percurso que anda nos subterrâneos dos saberes: "Visita Interiorem Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem". Porque é mergulhando no interior de nós próprios, praticando a rectidão, que descobriremos a pedra filosofal a qual nos restituirá a Deus, não como os mansos Adão e Eva, mas como seres já cientes do bem e do mal, como àqueles lhes fora anunciado na tentação de colherem da árvore do conhecimento.
Mas fazemo-lo em silêncio. Em silêncio se fazem as grandes jornadas. Não previam os pitagóricos 5 anos de silêncio a quem queria entrar nas suas Escolas? Não foi Jesus 40 dias para o deserto, onde os Essénios se tinham isolado há mais de 150 anos?
“Cale-se o tumulto da carne…”, dizia Agostinho de Hipona. Bruno de Colónia não abandonou as grandezas temporais para criar a Ordem da Cartuxa?
Conhece-te a ti mesmo”, lia-se por cima dos antigos templos do Saber e Sócrates repetia-o até à exaustão. E Monoimus, dizia, lá para as bandas de Nag Hammadi: “Abandona a procura de Deus por entre a criação e as outras coisas do mundo. Procura-o dentro de ti”.
Em silêncio que é o caminho da sabedoria.

domingo, 9 de outubro de 2011

DIÁLOGO COM O SER

in:http://salaodaprimaverade2011.blogspot.com/2010/01/52-graca-patrao.html
Em Sousel a Dra. Graça Patrão deu-me o seu livro de poemas que a editora "MinervaCoimbra" publicou. Li-o num fôlego, mas fiquei angustiado. Os poemas, muito bem escritos, cativam e a gente mergulha neles como se nos olhássemos ao espelho e nos sentíssemos culpados pela desilusão cantada na primeira mão-cheia de poemas escritos pela Mulher. Porque se Aristófanes tiver razão no que disse no famoso Banquete, será triste não ter encontrado o outro pedaço de nós. Mas pior do que isso será tê-lo encontrado e ter passado a vida a descurá-lo. Já a outra mão cheia de poemas escritos pela Professora não nos aleijam, outrossim transportam-nos ao recreio do nosso imaginário. Mas há ali um poema que nos regenera a alma: vem dedicado a Antero de Quental e a Eduardo Catroga. Também eu não tenho filhos, mas não tenciono ir ao Campo de S. Francisco dar dois tiros na cabeça. Porque acredito na vida e comovem-me a inocência das crianças com quem brinco em casa dos meus sobrinhos e dos meus amigos. E nessas alturas, os meus deuses e os seus apóstolos - até Prisciliano - falam-me de um "eterno retorno",  muito mais optimista do que o do Nietzsche n' "A Gaia Ciência".
Muito obrigado Dra. Graça Patrão pelo "DIÁLOGO COM O SER", que me deu ser a uma tarde de Domingo que ia ser sem motivação.

Poesia na Galeria

Outras amizades se têm desenvolvido, quer no percurso das exposições de arte, quer no desenvolvimento dos eventos, mormente os da POESIA na GALERIA (http://poesianagaleria.blogspot.com/) que em boa hora se combinou que seriam com hora e dia certo, sempre as 17 horas do 3.º Sábado de cada mês. A importância deste evento já galgou fronteiras, atingindo o limite dos 5000 a página que "rola" no facebook.(http://www.facebook.com/#!/profile.php?id=100001298171500).

A FORÇA DA AMIZADE

Foram amigos com intimidade, o Alberto d'Assumpção e o Dr. Armando Varela, quando o Alberto estanciava por Sousel.
Por isso não admira que Armando Varela se deitasse ao caminho até à Galeria Vieira Portuense quando, há uma ano, mais dia menos dia, o Alberto d'Assumpção aí protagonisou a apresentação do 3.º Paradigma (http://terceiroparadigma.blogspot.com/).
Foi nessa altura que conheci o agora Presidente da Câmara Municipal de Sousel, nascendo simpatia mútua que já deu frutos. Em Abril a galeria Vieira Portuense levou lá o 2.º Salão Internacional de Arte ao Redor do Touro (http://aoredordotouro.blogspot.com/). Agora, acaba-se de inaugurar o Salão Internacional de Arte do Alto Alentejo (http://salaodaprimaverade2011.blogspot.com/).