domingo, 14 de abril de 2019

PRISCILIANO EM PONFERRADA


PRISCILIANO EM PONFERRADA

Depois de retemperar as forças com o típico botilho do Bierzo, regado com um Ribera Sacra branco, botámo-nos para o Castelo que os Templários, no seguimento dos de Cluny, plantaram em Ponferrada, onde o rio Boeza desagua no rio Sil. Na cabeça burilava-me a tese de que esta zona era terra de hereges, talvez o cordão umbilical que ligava Astorga do bispo priscilianista Dictinio a Ourense, do priscilianista bispo Sinfosio, através das margens do Sil e seus afluentes, com ligação a Braga do bispo priscilianista Paterno, através Allariz, Celanova e Gerês. Os priscilianistas não foram os primeiros cátaros. Antes do concílio de Elvira já havia quem achasse que os homens santos do cristianismo se haviam de manter puros, não tocando em mulher, como aliás S. Paulo pregava, dizendo que - sabe-se lá porquê-, nunca conhecera mulher! Os de Elvira perdoaram a heresia e tiveram-na para si, impondo a castidade aos homens da igreja, que de mulheres da igreja nem falar. Daí o meu cismar pelos caminhos de Ponferrada, reflectindo que, pelo menos o meu Amigo José Manuel Anes, escreveu num dos seus livros, que é possível que o priscilianismo, que se espalhou também pela Aquitânia, tenha influenciado o catarismo medieval. À saída do castelo vi um homem de olhar triste e de alma morta a espalhar meia dúzia de objectos velhos e uma dúzia de livros usados. "Dê o quiser", disse ele, a esperança a nascer por eu ter parado a olhar a tenda, que outra não era que o topo do muro que separa do fosso da fortaleza. Parecia esfomeado. “50 cêntimos?” perguntei a brincar, disfarçando o embaraço e o sentimento de culpa por causa do botillo. “Se puder dar um euro...” disse ele conformado com a desgraça. Dei-lhe uma nota e procurei alguma coisa que não me atravancasse mais o escritório, muito mais do que já está. Passei aos livros. Perfeitamente sintonizada com o meu cismar, aparece-me esta VIAGEM AO PAÍS DOS CÁTAROS, com imagens a cores, fotos dos lugares, templos, mapas dos itinerários, enfim, 200 páginas de leitura compulsiva. Obrigado, meu S. Prisciliano!

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