Tenho aqui a “Excalibur”, que ma deram no Sábado passado,
na Galeria Vieira Portuense. Mas não é como a do Rei Arthur pois que a
encimá-la está a cabeça bifronte de Janus a lembrar-me que o Sol já morreu e já
renasceu, já a fronte velha do velho deus se vira para trás deixando a fronte
nova anunciar o novo tempo da nova luz, já que desde o solstício que os dias
passarão a ser maiores que as noites, sempre assim até ao outro solstício, o
do dia maior do ano que traz a janela que Janus entreabrirá a anunciar a morte
de Osiris, ou de Ninrode, ou seja lá de quem for que encarne o Sol, que há-de
morrer de aqui a um ano e renascer no dia seguinte, incitando-nos a também
morrermos para o vício e renascermos
para a virtude. A representação do papiro que se vê no cabo da espada
mais não será do que a lembrança do Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível
com as lições do terceiro filho de Eva, ou de qualquer outro Livro Sagrado que
nos ajude a atingirmos a Salvação. O Símbolo da harmonia perfeita também lá
está, sendo certo que foi com o seu compasso que Deus “marcou os limites do mundo e
determinou, dentro deles , tudo o que se vê e tudo o que está escondido”,
segundo cantou Dante na sua Comédia, que Bocácio denominou divina. Há um
pequeno ramo por baixo do pergaminho, o que também nos transporta à ideia de
renascimento, já que tal ramo não poderá ser de nada mais do que da acácia,
símbolo de todas as iniciações. Por isso esta prenda que me deixaram no dia do
solstício de inverno do nosso descontentamento é símbolo de esperança num ano
próximo de renovação, o que também é sinalizado pelo aspecto cruciforme da
mesma, que poderá apontar para a expectativa de um qualquer milagre ainda
indefinido que nos traga refrigério para esta triste e vil tristeza. E então
apetece sonhar a esperança com Fernando Pessoa:
Que
símbolo fecundo
Vem
na aurora ansiosa?
Na
Cruz Morta do Mundo
A
Vida, que é a Rosa.
Que
símbolo divino
Traz
o dia já visto?
Na
Cruz, que é o Destino,
A
Rosa que é o Cristo.
Que
símbolo final
Mostra
o sol já desperto?
Na
Cruz morta e fatal
A
Rosa do Encoberto.
OBRIGADO,
ALICE QUEIROZ.
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