sábado, 13 de julho de 2013

A Visita da Velha Senhora



O fim-de-semana é sempre bem-vindo para recobro das energias. Todavia este está cheio de nuvens negras. Por cá ninguém se entende e a “troika” só vem com os milhões lá para o Outono. Mas parece que só deixará os milhões se os nossos “maiores” mandarem para a desgraça mais umas dezenas de milhar de desprotegidos e para a desesperança uma nação inteira, lançando para o Limbo os princípios e regras da democracia.
Claro que os nossos políticos não aceitam qualquer atropelo aos direitos das gentes portuguesas, mas como o dinheiro lhes faltará na “manjedoura” a breve prazo, já se fala por aí em suspensão da democracia, como a quis, fatalmente, ensaiar D. Carlos, pretendendo o Presidente da República um “arranjo” ao arrepio do que está arranjado no Parlamento por vontade do povo.
Este triste enleio levou-me ao Teatro Nacional de S. João, que os do Porto ergueram para festejar João VI e por onde andou o pincel do, por mim admirado, Acácio Lino de Amarante, no dealbar do séc. XX, depois do incêndio.
Subia à cena “A Visita da Velha Senhora”, de Dürrenmatt, que eu li nos meus 18 anos, quando Marcelo Caetano ensaiava a sua primavera e nos veio o melhor do teatro europeu – Brecht, Anouilh, Beckett, etc..
Lembrava-me bem do enredo: uma cidadezinha falida, uma velha senhora, riquíssima filha da terra, e a promessa de um milhão se matassem o merceeiro. Toda a gente repudiou o negócio, mas ninguém deixou de ir gastando por conta do milhão que aí viria.

A peça tem encenação de Nuno Cardoso que, em cena, foi deixando correr a velha história: ninguém aceitava o hediondo crime, mas como toda a gente já vinha a viver “à grande e à francesa” por conta dos dinheiros prometidos, outro jeito não houve se não o de alargar as consciências e perpetrar o crime exigido, como quem cumpre uma obrigação devida à comunidade.

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